“Vinte anos se passaram rápido e os últimos quatro não acabam nunca”, desabafa extrativista da reserva Antimary à Nazaré Araújo

“Vinte anos se passaram rápido e os últimos quatro não acabam nunca”, desabafa extrativista da reserva Antimary à Nazaré Araújo

A candidata ao Senado Nazaré Araújo (PT) cumpriu agenda no município do Bujari na manhã deste sábado, 10, com lideranças da Federação Brasil da Esperança. Em seguida, dirigiu-se à Floresta Estadual do Antimary, por meio de uma BR-364 tomada por buracos e ramais carentes de manutenção. Lá, a ex-vice-governadora do Acre se deparou com a dura realidade de moradores completamente desassistidos pelos governos estadual e federal.

O extrativista Marivaldo Rodrigues, 55, denunciou que além de não contar mais com investimentos para trabalhar com agricultura familiar, os moradores têm que lidar ainda com a agressão da polícia e de técnicos do governo do Acre. “Estamos vivendo como animais aqui na floresta. Tenho um ditado com os meus companheiros: 20 anos se passaram muito rápido e os últimos 4 não acabam nunca, devido ao abandono que estamos sofrendo. O Manejo Florestal Madeireiro está parado. De acordo com o inventário, hoje temos 1.500 hectares para o manejo, para dar sustento a essas famílias que aqui vivem, mas não fomos prioridade para o atual governo. Não funciona mais”, desabafou.

Realidade essa confirmada pelo também extrativista Francisco Freitas dos Santos, 53, morador do Ramal do Ouro, no Antimary. “Faltam melhorias nos ramais para que a gente possa extrair o nosso produto. Faltam recursos. Antes, a gente mexia com a seringa e a semente, mas hoje já não tem mais mercado. Nos restou mexer apenas com um pouco de castanha, legumes ou vender nossos poucos bezerros”, destacou.

De acordo com Marivaldo Rodrigues, nos governos de Jorge Viana, Binho Marques e Tião Viana, a Floresta do Antimary já chegou a contar com quatro escolas. Hoje, apenas uma funciona. Inclusive, as crianças do Antimary passaram o período pandêmico todo sem aulas. Como no local não há acesso à internet, os estudantes não conseguiram acompanhar o conteúdo de casa. Em agosto, após mais de dois anos parados, as aulas foram retomadas, no entanto, sem qualquer tipo de plano para repor o conteúdo perdido.

O abandono governamental torna tudo ainda mais difícil para as mulheres do Antimary. A extrativista Eliane Lima, 27, é mãe da pequena Maitê, de 2 meses de vida. Ela conta que o seu pré-natal foi feito no município do Bujari, a 115 km de casa, pois nas proximidades da reserva não existe unidade de saúde. Por isso, adoecer não é uma opção para as moradoras da região. “Para ir ao hospital, a gente depende de algum vizinho que tenha um carro para nos levar até a estrada e de lá pegamos um táxi”, explicou.

Diante das denúncias, Nazaré Araújo se disse indignada, pois quando foi vice-governadora na gestão do Tião Viana, garantiu ter deixado a reserva amparada, com manejo em pleno funcionamento, o que assegurava o sustento das famílias. Os ramais recebiam periódicas manutenções para o escoamento dos produtos e os moradores eram atendidos por mutirões de saúde e especialização profissional do programa Mulher Cidadã.

“Passei hoje por uma ponte derrubada e fiquei imaginando como é que vai ser o inverno. Há uma grande possibilidade de que vocês fiquem isolados. Por isso, eu vou sair daqui e já vou conversar com o Jorge para que o Antimary seja uma das primeiras comunidades, depois dele ganhar, a passar por um estudo do que vai ser feito no primeiro momento”, garantiu.

Redação068

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