“A gente luta, mas come fruta”: experiência indígena com merenda escolar é adotada com sucesso pelo município de Marechal Thaumaturgo

“A gente luta, mas come fruta”: experiência indígena com merenda escolar é adotada com sucesso pelo município de Marechal Thaumaturgo

Leandro Altheman

Como prefeito de Marechal Thaumaturgo, entre 2016 e abril deste ano, Isaac Piyãko conseguiu ampliar a aquisição direta de merenda escolar dos produtores locais de 30% para até 60%. Uma das consequências mais imediatas, é o aumento do fluxo de recursos na circulação interna de um município que produz muito, mas cuja renda é pequena.

A iniciativa de sucesso acabou sendo destaque em uma reportagem assinada por Eduardo Sá, da Mídia Ninja: uma publicação nacional de grande circulação nas redes sociais. (https://www.instagram.com/p/CfcQCNNp1Kh/) A matéria destaca os aspectos positivos da ampliação: valorização da agricultura familiar, alimentação orgânica e de qualidade para os alunos e circulação de renda em um município pequeno e de difícil acesso.

“O nosso grande objetivo seria comprar essa produção direta do produtor, com mais qualidade e altamente orgânico e com isso também gerar renda para as comunidades, para as famílias da região, com isso trazendo uma melhor distribuição de renda, ao invés de esse recurso da merenda ficar apenas na mão de um ou de dois”, explica o ex-prefeito. Mesmo com a suspensão das aulas devido à pandemia, o programa continuou em atividade, garantindo cestas básicas para os alunos.

Prefeito por dois mandatos, Isaac Piyãko diz que teve facilidade na gestão do programa por já tê-lo experimentado antes, na escola da aldeia. “Já trouxe essa experiência da comunidade de regionalizar a merenda escolar através da produção da agricultura familiar, dos sistemas agroflorestais, das praias, roçados e das frutas nativas na comunidade”, conta.

Em 2006, Isaac foi um dos diretores do documentário “A gente luta, mas come fruta”, que retrata o manejo agroflorestal realizado pelo povo Ashaninka, do Rio Amônia. Após a demarcação da Terra Indígena, os Ashaninka foram gradualmente substituindo os pastos deixados por fazendeiros que ocuparam o território, por sistemas agroflorestais que garantem maior diversidade alimentar, da fruta ao peixe, e têm uma dinâmica mais integrada com a fauna e a flora da floresta amazônica em que a comunidade está inserida.

O desafio de Isaac agora é tentar ampliar essas iniciativas para o restante do estado. Pré-candidato a deputado estadual, Isaac Piyãko quer utilizar as experiências de sucesso de Marechal Thaumaturgo em outros municípios. “Foi implementado um trabalho de qualidade que trouxe muitos resultados positivos. Seria importante se fosse implementado em todos municípios do Estado do Acre. Um projeto valorizado e colocando um olhar especial para a distribuição de renda, qualidade de vida e melhor nível de aprendizado”, concluiu.

O Projeto

O programa é federal e existe desde 2009, mas a implantação depende muito da boa vontade e articulação dos gestores estaduais e federais. O objetivo é gerar mais renda entre os agricultores da produção familiar ao mesmo tempo em que garante um alimento mais natural para os estudantes. Um recurso que seria utilizado para aquisição de itens processados e industrializados é usado para adquirir frutas, legumes, verduras e mesmo produtos artesanais e semi-artesanais como farinha, goma, biscoitos e etc.

Um dos entraves foi da ordem burocrática. Há uma série de documentos exigidos para que o agricultor possa se cadastrar no programa. Algo que muitas vezes ele sozinho tem dificuldade, sendo necessário o empenho de um corpo técnico da prefeitura. “No município trouxemos essa proposta de trabalho com os agricultores. Uma equipe da prefeitura fez um trabalho de levantamento e orientação aos produtores”, conta Isaac.

Outro entrave foi a relação de confiança entre fornecedores e a municipalidade. “No primeiro ano, poucos agricultores se interessaram pelo programa, porque desconfiavam se iriam mesmo receber. Como a prefeitura pagou direitinho todos esses, no segundo ano do programa houve uma procura bem maior dos agricultores, e com isso conseguimos chegar a cerca de 60% da merenda regionalizada”, explicou Isaac.

Redação068

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