ARTISTAS SE REINVENTAM EM MEIO A CORTES DE VERBA?
Por: Eduardo Fragoso
A pandemia chegou de surpresa. Ninguém esperava passar por tudo isso. O mundo parou e todo mundo ficou trancado em casa com medo. As pessoas tiveram prejuízo tanto financeiro quanto emocional. E uma das classes mais afetadas foram os artistas, a cultura.
E quem não precisou da cultura e da arte para sobreviver nessa pandemia?Seja através de filmes, séries, jogos, apresentações musicais em lives, entre outras atividades culturais. Todos consumiram algum produto cultural nesse período. Mais do que nunca foi possível evidenciar a importância da arte e dos artistas.
Sarah Jainy, atriz, diretora e produtora cultural, faz uma importante reflexão sobre o quanto a pandemia foi abrupta e os artistas precisaram se reinventar de forma rápida: “Pra mim foi muito difícil ter que lidar com a pandemia e me adequar a esse novo formato do fazer artístico, do fazer cultura através das telas”.
Sarah também foi contemplada com editais de apoio emergencial à cultura. Para ela, isso foi de extrema importância financeira e mental para sobreviver nesse período pandêmico.
INCERTEZAS E MEDO
Para os artistas do Teatro Candeeiro, a pandemia veio e os pegou desprevenidos. Estavam com espetáculo em cartaz quando tudo precisou ser fechado, inclusive o teatro. Alguns membros do grupo sobreviveram financeiramente do auxílio emergencial.
A atriz Jaqueline Chagas, uma das fundadoras do grupo, relata que “por volta do dia 13 ou 18 de março a pandemia parou tudo, né? E a gente simplesmente parou. Nossas coisas ficaram todas no teatro. E a gente não sabia o que fazer…”
A atriz disse que no início da pandemia tudo era incerto e dava medo. Mas aos poucos apareceram alguns editais para realizar projetos de forma online. Segundo ela, foi um “respiro”, uma salvação! Os editais de incentivo à cultura e de apoio emergencial, como a Lei Aldir Blanc, foram essenciais não só para a sobrevivência do Teatro Candeeiro, como para outros artistas.
O Teatro Candeeiro, que existe desde 2016, se intitula assim pois também funciona como espaço físico e associação. O grupo foi contemplado com os editais de apoio emergencial e puderam voltar aos poucos com os espetáculos.
OS CORTES NA CULTURA
Segundo os dados do Siga Brasil, plataforma de informações orçamentárias mantida pelo Senado Federal, o orçamento federal disponível para políticas culturais recuou 46,8% entre 2011 e 2021. Há dez anos, o extinto Ministério da Cultura tinha à disposição R$3,33 bilhões. Neste ano, o valor autorizado é de R$1,77 bilhão. Recentemente houve vetos do presidente Jair Bolsonaro às leis emergenciais como Lei Paulo Gustavo e Lei Aldir Blanc 2.
A diretora Sarah Jayne acredita que os cortes na cultura não prejudicam apenas os artistas, mas toda a sociedade. “Quando não se tem recurso para arte e todas as suas linguagens, quem perde é a sociedade. Porque é a arte que nos ajuda a preservar e contar nossa história”, afirma..
A atriz Jaqueline Chagas diz que se sente frustrada quando vê os cortes acontecendo. “Porque quando corta dinheiro da cultura não adianta dizer que tá mandando dinheiro para a educação ou saúde. Porque, na teoria, era pra ter dinheiro para todas essas áreas. Qualquer oportunidade que têm, eles tiram dinheiro da cultura. Como se a gente não precisasse desse dinheiro!”
READAPTAÇÃO AO PRESENCIAL
Atualmente Sarah está finalizando os projetos aprovados nos editais do ano passado. Segundo ela, com tudo voltando ao normal, todos ainda estão se readaptando aos eventos presenciais. De certa forma, nada é como era antes e precisam continuar se reinventando.
Já o Teatro Candeeiro busca alternativas para custear suas apresentações e pagar o mínimo de cachê aos atores. Arrecadam dinheiro em forma de rifas, com apoio de amigos, vakinhas online e vendas de ingressos. “Tivemos que achar outros meios para continuar”, diz Jaqueline. Por fim, a atriz traz uma importante reflexão, de que a cultura nunca foi ensinada como essencial, nem na escola e nem na maioria dos lares. Por este motivo, muitas pessoas não têm acesso a essa arte. Segundo ela, quem pisa no teatro pela primeira vez se encanta de não para mais de ir.