Parlamentares apontaram conflito de interesses na atuação de Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, então procurador-geral do INSS, enquanto sua esposa, a médica Thaisa Hoffmann Jonasson, prestava serviço a entidades que tinham acordo de cooperação técnica (ACT) com o órgão. Virgílio Filho foi afastado do cargo em abril, após a operação Sem Desconto, da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU), que mirou as fraudes contra aposentados e pensionistas.
O ex-procurador depôs por cerca de seis horas à CPMI do INSS nesta quinta-feira (23). Na primeira parte da reunião , os parlamentares ouviram sua esposa. O senador Rogério Marinho (PL-RN) sublinhou que Thaisa Jonasson organizou uma empresa para prestar serviço a entidades com ACT com o INSS enquanto o marido era o procurador-geral do órgão.
— Há um claro conflito de interesse. Não faço pré-julgamento, mas é muito fora da tipicidade o que está acontecendo com o senhor — disse o senador, dirigindo-se a Virgílio Filho.
Rogério Marinho também questionou o ex-procurador sobre "seu sentimento" ao ouvir parlamentares da base do governo criticando sua atuação. Virgílio Filho disse se sentir "injustiçado", mas que toda CPMI tem "viés político".
A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) questionou o ex-procurador sobre suas nomeações anteriores em cargos de confiança. Virgílio Filho relatou que, durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), foi convidado a trabalhar no INSS por Bruno Bianco, ex-advogado-geral da União.
Em resposta à senadora, ele também afirmou desconhecer que a CGU tenha feito, durante o governo passado, alguma auditoria sobre irregularidades em descontos associativos. Após a fala de Virgílio Filho, a senadora disse ser muito clara a ausência de atuação da CGU no caso dos descontos irregulares do INSS antes de 2023.
A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) questionou uma viagem do do ex-procurador com Danilo Trento . Em resposta, Virgílio Filho disse que permaneceria em silêncio, por orientação dos seus advogados. O empresário Danilo Berndt Trento é investigado pela Polícia Federal no inquérito que apura o desvio de dinheiro de aposentados.
Damares ainda disse que a CPMI tem informações de que o depoente comprou uma série de armas. Ela questionou se sua esposa está em segurança, com um marido que tem tantas armas em casa. Virgílio Filho disse que o questionamento era “uma pergunta até ofensiva”.
— A forma como o senhor expôs a sua esposa foi uma grande violência. O senhor destruiu a carreira de uma médica brilhante. Eu não sei por que ela ainda está com o senhor. Os documentos [levantados pela CPMI] vão garantir alguns bons anos de cadeia para o senhor — disse Damares.
Em resposta ao deputado Marcel van Hattem (Novo-RS), Virgílio Filho confirmou que a AGU já abriu um processo administrativo contra ele – o que pode resultar em sua demissão do serviço público.
Ao senador Eduardo Girão (Novo-CE), o depoente respondeu que já esteve no Senado, mas não para tratar de assuntos relacionados a débitos do INSS. O senador disse estranhar que Virgílio Filho tenha feito apenas um parecer sobre ACT, e nesse caso em favor da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).
O presidente da comissão, senador Carlos Viana (Podemos-MG), criticou a atuação do governo diante da crise do INSS. Ele afirmou que a CPMI seguirá atuando em favor dos aposentados e celebrou o fato de mais de 30 mil pessoas terem acompanhado a transmissão da comissão pela internet. Segundo ele, "a CPMI vai devolver ao Brasil a vergonha, a coragem e a esperança de justiça".
— O Brasil viu hoje que muitos seus josés e donas marias estão pagando por um crime que nunca cometeram. É por eles que esta CPMI existe, é por eles que esta comissão não se calará — declarou.
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