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Acre

O futuro da floresta e do clima começa na educação

Por Aberson Carvalho* O inverno amazônico está voltando com força. As primeiras chuvas fortes já mudam a rotina de quem vive na floresta. É agora ...

21/12/2025 11h22
Por: Redação068
Fonte: Secom Acre
Foto: Reprodução/Secom Acre
Foto: Reprodução/Secom Acre

Por Aberson Carvalho*

O inverno amazônico está voltando com força. As primeiras chuvas fortes já mudam a rotina de quem vive na floresta. É agora que o barro vira lama, os rios começam a encher e o caminho para chegar à escola muda de um dia para o outro. Nos últimos meses, o Acre enfrentou uma seca rigorosa, e se prepara para cheias cada vez mais fortes, com efeitos severos. Entre um extremo e outro, tem um lugar que não abandona seu papel: a escola. É na rotina da educação que a Amazônia enfrenta, de verdade, a crise climática.

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Depois de dias de atenção da COP30, realizada no Brasil, a lição que fica é que se o mundo olha para a Amazônia como fronteira climática, precisa olhar também para o que sustenta essa fronteira por dentro. A floresta não será protegida só com satélite, fiscalização, grandes acordos e recursos internacionais. Ela será protegida, ou esquecida, na sala de aula. A educação na Amazônia não é um serviço a mais, é a infraestrutura que mantém a floresta viva e as comunidades de pé.

Quando uma escola funciona na floresta, ela segura o território. Quando a escola fecha ou não chega, a família é empurrada para longe. A proteção da Amazônia começa no orçamento e na logística, não só nos painéis das conferências. Nos locais mais afastados, a escola é mais que o prédio onde se aprende. É também o ponto central de uma região, e a cada seca histórica, a cada cheia que muda o curso dos rios, a cada varadouro que desaparece de um ano para o outro, é a escola que ajuda a manter o vínculo entre as famílias e que organiza a população.

Em uma região que vive extremos cada vez mais frequentes, formar gerações capazes de entender esse cenário, e agir sobre ele, é tão necessário quanto criar infraestrutura.

Garantir o direito à aprendizagem no território amazônico é, também, uma política ambiental. A floresta permanece em pé quando as crianças podem subsistir onde nasceram. E garantindo que o ensino chegue, a migração forçada diminui, os costumes se mantêm e o conhecimento regional continua existindo. E o contrário também é verdadeiro, porque onde não há escola, há deslocamento, e onde há deslocamento, há perda de identidade e de vínculos que sustentam o território. É assim que surgem muitas periferias que crescem nas capitais e grandes cidades.

E o direito à educação tem um custo social, administrativo e ambiental. É preciso compreender que fazer uma escola funcionar na Amazônia é lidar com rios que secam no verão e transbordam no inverno. É garantir combustível para barcos que substituem ônibus e que enfrentam situações nunca antes vividas. Uma viagem para garantir merenda em alguns locais era de oito dias. Em 2025, levamos 10, 12, 15 dias para concluir uma entrega. É organizar o calendário conforme o ritmo das águas. É entregar merenda, carteiras e livros por igarapés que deixam de existir em períodos de estiagem, enfrentando uma geografia que exige muito mais do que a legislação nacional costuma enxergar.

No Acre, essa realidade aparece com clareza nos quatro calendários que organizam a rede. Atualmente, obedecemos o calendário dos rios, o da floresta, o do campo e o urbano. Há escolas que começam mais cedo para aproveitar o período de seca, outras que ajustam o início das aulas ao tempo das chuvas, outras que dependem do acesso por ramal ou por barco, e assim a escola precisa obedecer ao tempo da natureza, não apenas ao calendário oficial. Quando o país calcula o financiamento da educação como se todas as escolas estivessem na mesma avenida, ignora essa diferença.

A conta do financiamento não fecha com essa realidade. Não considera que há escolas cujo transporte leva 12 dias de barco, ou que o professor precisa dormir semanas dentro da comunidade para garantir as aulas. O Fundeb trata como semelhante o que, na prática, é totalmente diferente. Se essa distorção não for corrigida, o país seguirá financiando a Amazônia como se fosse um bairro urbano, o que fragiliza o presente e, principalmente, o futuro.

A logística educacional que se reinventa na floresta produz soluções que o país inteiro deveria estudar. São professores que se deslocam por rios, escolas que organizam o tempo pelo movimento das águas, redes que se adaptam à ausência de estradas e à presença constante do imprevisto. Educar na Amazônia é falar de adaptação, sabendo também que em muitos lugares, a escola é a própria presença do Estado e quando ela cai, cai junto a referência de presença do poder público.

É por isso que, mesmo com as chuvas apertando, a educação não para. Enquanto o volume dos rios sobe, as equipes seguem revisando telhados, acessos, sistemas de água e energia, reforçando muros e espaços de convivência, preparando as escolas para o ano letivo de 2026. No Acre, o período de sol serve para consertar o que a água afetou; o período de chuva, para chegar onde a estrada ainda não chegou, levando alimentação, mobiliário e material pedagógico pelos rios. Esse trabalho que pouca gente vê mantém a escola aberta e pronta justamente quando o clima mais coloca à prova o nosso cotidiano.

A COP30 já terminou, os discursos feitos e os documentos registrados, mas o compromisso com a Amazônia não cabe só no papel de um encontro internacional. A região precisa de um novo pacto federativo que reconheça o custo real de educar na floresta e que garanta financiamento do tamanho dessa geografia. A proteção ambiental começa na sala de aula, ainda que essa sala seja um anexo improvisado, uma escola ribeirinha ou em uma aldeia distante, criada para que nenhuma criança precise abandonar seu território para estudar.

Educação é a base que sustenta a floresta e a dignidade das famílias que vivem nela. Se a COP30 ajudou o mundo a olhar para o futuro, cabe ao Brasil olhar, com mais honestidade, para a Amazônia como ela é e reconhecer que, sem uma educação forte, nenhuma política climática se mantém de pé.

* Aberson Carvalho é secretário de Estado de Educação e Cultura do Acre. Sociólogo, com trajetória marcada pela gestão pública em áreas como segurança e meio ambiente. Atua desde 2023 na condução da política educacional acreana.

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