Desenvolvido a partir de demandas notadas no cotidiano de quem trabalha na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) em Rio Branco desde 2020, quando foi criado, o projeto Closet Solidário já ajudou a recuperar a dignidade e devolver a autoestima de milhares de mulheres, crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica e sexual ou em situação de vulnerabilidade social.
O espaço, pintado com cores vivas e aconchegantes, foi pensado exatamente para ser um local de acolhimento. Diariamente, entre 8 e 12 mulheres são atendidas na delegacia especializada, e cerca de 30% dessas vítimas usufruem do Closet Solidário, o que resulta em mais de 100 beneficiadas por mês.
De acordo com a idealizadora do projeto, delegada Elenice Frez Carvalho, o trabalho da Polícia Civil, muitas vezes, precisa ir além da investigação. É nesses momentos que o lado humano de cada profissional se revela e o olhar voltado para o social torna-se essencial.
“Temos que usar a criatividade. Às vezes à noite eu deitava, não conseguia dormir pensando nesses problemas, em como resolver. Até que me veio essa ideia da gente ter um espaço para atender essas necessidades de uma maneira mais integral. Todas as delegacias deveriam ter um espaço como o Closet Solidário”, destaca a delegada.
Em 2020, ao assumir a coordenação da Deam, Elenice percebeu a necessidade de buscar estratégias que garantissem condições básicas às vítimas e, assim, possibilitassem a conclusão das demandas investigativas. A falta desses mecanismos, segundo ela, impactava diretamente o trabalho da PCAC, já que muitas mulheres chegavam acompanhadas de filhos pequenos e em situação de vulnerabilidade, o que dificultava a coleta de informações.
“Se a mulher está com uma criança com fome, não conseguimos ouvi-la com tranquilidade, nem colher todos os elementos necessários para que a investigação flua”, explica. Para ela, oferecer condições mínimas de acolhimento é essencial para garantir a eficiência do trabalho policial e a efetividade das investigações.
A entrada das mulheres no Closet Solidário é, muitas vezes, um momento de forte carga emocional. Para quem acompanha de perto essas reações, é preciso ter o emocional bem preparado. A transformação no semblante das vítimas de violência é visível e comovente.
Segundo ela, muitas mulheres chegam à delegacia esperando o pior, mas se surpreendem com o acolhimento. “É lindo de ver. Algumas se emocionam e choram, outras ficam radiantes e alegres. A gente vê a gratidão no olhar delas. Algumas, você até olha assim e consegue traduzir o que o corpo delas está falando”, relata Elenice.
A Polícia Civil do Acre tem buscado se manter sempre atenta às pautas sociais, desenvolvendo iniciativas que ultrapassam o âmbito investigativo. Essas ações reforçam o compromisso da instituição com a população acreana, especialmente com aquelas pessoas em situação de vulnerabilidade emocional e mental, que necessitam de acolhimento além da resposta policial.
“Elas pensam: ‘Eu vim pra uma delegacia, era pra ser o pior lugar do mundo e olha o que eu estou encontrando aqui. Encontro acolhimento e gente que pensou no meu problema para além do serviço policial’. É muito gratificante”, pontua.
A sede da Deam, localizada na Via Chico Mendes, nº 803, na capital do estado, passou recentemente por uma revitalização. Ao saber que o prédio ganharia uma nova e ampla estrutura, Elenice Frez se mobilizou e solicitou a construção de uma sala exclusiva para abrigar o Closet Solidário. Além disso, a estrutura interna do espaço contou com recursos provenientes da bancada parlamentar.
Graças ao ambiente acolhedor, o projeto tem ganhado reconhecimento nacional por sua contribuição no enfrentamento à violência. Foi inscrito em três prêmios de grande relevância no país, entre eles, o da Associação Brasileira de Mulheres da Carreira Jurídica (ABMCJ). Também foi contemplado no Prêmio CNJ Juíza Viviane Vieira do Amaral, alcançando a sétima colocação entre as iniciativas selecionadas. O reconhecimento reafirma o valor do projeto como uma boa prática.
Atualmente, o projeto está inscrito no Prêmio Innovare, um dos mais prestigiados do país na área jurídica. Uma equipe de consultoria já visitou o local para conhecer de perto a prática e verificar sua execução. Agora, os idealizadores aguardam o resultado da avaliação.
“Ganhar não é o mais importante. O que importa é termos algo relevante para mostrar e evidenciar o que o Acre está fazendo. É uma ideia que pode ser expandida e replicada em outras Delegacias da Mulher espalhadas pelo Brasil”, afirma a delegada.
O Closet Solidário conta com uma grande diversidade de peças, que vão desde roupas casuais até itens de frio, como casacos e moletons. A proposta é garantir que as mulheres atendidas pela delegacia tenham acesso a vestimentas adequadas para diferentes situações, reforçando o acolhimento em momentos delicados.
Além das peças femininas, o espaço também recebe roupas infantis, pensando nas mães que chegam acompanhadas dos filhos. A iniciativa busca não apenas suprir uma necessidade imediata, mas também oferecer dignidade e conforto às famílias naquela situação ruim da vida.
As portas da Deam permanecem abertas para doações da comunidade. A prioridade, neste momento, é a arrecadação de utensílios voltados para crianças e adolescentes, como roupas, sapatos fechados e sandálias. As contribuições podem ser entregues diretamente na sede da delegacia, fortalecendo a rede de solidariedade em torno do projeto.
“Quero proporcionar a elas a oportunidade de entrar aqui de um jeito, receber o melhor atendimento que podemos oferecer, o mais acolhedor, humanizado e empático possível, e ainda ter a possibilidade de ofertar um banho e troca de roupa”, finaliza Elenice Frez.
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