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Senado Federal

Governo precisa de R$ 27 bi para cumprir meta, afirma IFI

A Instituição Fiscal Independente (IFI) avalia que o governo precisará de um esforço adicional de R$ 27,1 bilhões no último trimestre de 2025 para ...

23/10/2025 13h16
Por: Redação068
Fonte: Agência Senado
Arquivamento da MP 1.303/2025 e desidratação, na Câmara, dos ganhos fiscais do projeto que isenta de Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil por mês aumentaram os desafios fiscais deste ano, aponta relatório da IFI - Foto: Jonas Pereira/Agência Senado
Arquivamento da MP 1.303/2025 e desidratação, na Câmara, dos ganhos fiscais do projeto que isenta de Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil por mês aumentaram os desafios fiscais deste ano, aponta relatório da IFI - Foto: Jonas Pereira/Agência Senado

A Instituição Fiscal Independente (IFI) avalia que o governo precisará de um esforço adicional de R$ 27,1 bilhões no último trimestre de 2025 para alcançar a meta de resultado primário zero, estabelecida na Lei de Diretrizes Orçamentárias ( LDO de 2025 ). O alerta consta no 105º Relatório de Acompanhamento Fiscal (RAF), divulgado nesta quarta-feira (23), que também analisa o impacto das mudanças no Imposto de Renda e os efeitos da perda de validade da Medida Provisória (MP) 1.303/2025 sobre as contas públicas.

De acordo com a avaliação, o governo acumulou déficit primário de R$ 100,9 bilhões até setembro, e a perda de eficácia da MP 1.303 — que estabelecia medidas de compensação tributária com potencial de arrecadar R$ 10,6 bilhões e foi arquivada pela Câmara — aumentou o desafio fiscal. Além disso, a piora no desempenho das empresas estatais federais também ampliou o risco de descumprimento da meta de 2025.

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“Segundo informações do Tesouro Nacional e do Siga Brasil, o governo central acumulou déficit primário de R$ 100,9 bilhões no acumulado de 2025 até setembro. A perda de eficácia da Medida Provisória no 1.303, que implicará em R$ 10,6 bilhões a menos em receitas neste ano, e a piora no déficit primário das empresas estatais impõem riscos adicionais ao cumprimento da meta fiscal de 2025”, diz o documento.

Despesas

Entre janeiro e agosto de 2025, apenas o Programa Bolsa Família registrou queda real nas despesas, com desembolso de R$ 108 bilhões, redução de 8,5% em relação ao ano anterior. Esse recuo é explicado, segundo o estudo, pela falta de reajuste dos benefícios, o que reduz o valor real frente à inflação, e pela diminuição do número de famílias atendidas, que passou de 20,8 milhões para 19,2 milhões no período.

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As demais despesas obrigatórias cresceram em termos reais. Já as despesas discricionárias tiveram baixa execução ao longo do ano, devido à aprovação tardia do Orçamento de 2025 (apenas em abril) e à imposição de limites de empenho (faseamento) estabelecidos pelo Executivo. Até setembro, os empenhos ficaram R$ 25 bilhões abaixo do limite permitido, o que indica que parte desses recursos poderá ser postergada, contribuindo para melhorar o resultado fiscal de 2025 e reduzir restos a pagar em 2026.

Com base nisso, a IFI aponta que, para equilibrar as contas, o governo poderá recorrer justamente ao faseamento da execução das despesas discricionárias, isto é, postergar parte dos gastos previstos para o fim do ano. A medida, de acordo com a análise, aliviaria momentaneamente o caixa, mas evidencia a rigidez orçamentária e as dificuldades de ajuste.

Reforma da Renda

O relatório também analisa os efeitos fiscais do Projeto de Lei (PL) 1.087/2025 , do Poder Executivo, que reforma a tributação sobre a renda. Segundo a IFI, as alterações feitas pela Câmara dos Deputados — especialmente o aumento da faixa de isenção e a ampliação das exclusões no imposto mínimo para altas rendas — reduziram a arrecadação esperada.

O ganho líquido de R$ 9 bilhões ao ano projetado no texto original caiu para R$ 4 bilhões na versão do deputado Arthur Lira (PP-AL) aprovada na comissão especial da Câmara dos Deputados e passou a apenas R$ 1 bilhão após as mudanças aprovadas no plenário daquela Casa legislativa, aponta o relatório da IFI.

Apesar disso, a IFI avalia que a proposta tende a ser fiscalmente neutra, pois combina desoneração para rendas mais baixas com compensações sobre lucros, dividendos e altos rendimentos.

“No texto aprovado em Plenário, as contas da IFI apontam impacto líquido de cerca de R$ 1 bilhão, em razão da inclusão da parcela isenta da atividade rural entre as exclusões do imposto mínimo. De forma agregada, as estimativas sugerem que o conjunto de medidas do IRPF no projeto original e na versão aprovada pela Câmara tendem à neutralidade fiscal, condicionada à efetiva arrecadação das medidas compensatórias e ressalvando-se a elevada sensibilidade dos resultados às premissas comportamentais adotadas”, continua o documento.

O projeto ainda precisa ser aprovado no Senado para seguir à sanção presidencial. Atualmente ele está em discussão na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), sob relatoria do senador Renan Calheiros (MDB-AL).

Cenário de incerteza

O diretor-executivo da IFI, Marcus Pestana, destacou no documento que o reequilíbrio das contas públicas continua sendo um dos maiores desafios da agenda nacional e depende da ação coordenada entre os três Poderes.

Ele lembrou que a Emenda Constitucional 136, que fixou limites para o pagamento de precatórios e criou regras de renegociação de dívidas, foi um passo importante, mas insuficiente diante da perda de receitas esperadas com a MP 1.303/2025, arquivada pelos deputados.

“O desafio de reequilibrar as contas públicas permanece como um dos pontos prioritários da agenda nacional. O equacionamento da política fiscal é missão compartilhada entre os Poderes Executivo e Legislativo. Mesmo o Poder Judiciário toma algumas decisões que têm impactos fiscais extremamente relevantes”, afirma Pestana.

Estatais

O estudo aponta que o resultado primário das empresas estatais não dependentes pode trazer um risco adicional ao cumprimento da meta de resultado primário do governo de 2025. Além de diminuir a margem para o cumprimento das metas fiscais por meio da compensação entre as metas do Tesouro e das empresas estatais. O aumento do déficit das estatais pode demandar uma intervenção do Tesouro Nacional com aportes que garantam o funcionamento das empresas, o que aumentaria o esforço fiscal necessário no último trimestre do ano. O relatório cita o déficit nas contas dos Correios (ECT) como agravante para esse cenário.

“A expectativa para o resultado da ECT passou de um superávit de R$ 0,7 bilhão, na avaliação do terceiro bimestre, para um déficit de R$ 2,4 bilhões na avaliação do quarto bimestre. Com isso, a projeção para o déficit primário das estatais aumentou, de R$ 6,5 bilhões para R$ 9,2 bilhões, entre julho e setembro”, conclui o documento.

Endividamento em discussão

O RAF também ressalta a importância da discussão na CAE sobre a Proposta de Resolução do Senado (PRS) 8/2025, que regulamenta os limites de endividamento público federal previstos na Constituição e na Lei de Responsabilidade Fiscal. Para a IFI, a iniciativa é relevante para aumentar a transparência e disciplinar o crescimento da dívida pública.

“O atual arcabouço fiscal brasileiro ( Lei Complementar 200, de 2023 ) combina essencialmente uma regra para o teto de despesas primárias e outra prevendo meta de resultado fiscal primário. A eventual aprovação do PRS 8/2025 adicionaria parâmetros referentes à dívida pública ao conjunto de regras fiscais existentes”, aponta a IFI.