* Por Leonardo das Neves Carvalho
Os debates técnicos sobre a nova economia florestal, as perspectivas para a superação de desafios históricos e o desenvolvimento de novos mecanismos de financiamentos climáticos marcaram o sucesso da reunião.
Entre os dias 18 e 23 de maio de 2025, o estado do Acre sediou a 15ª Reunião Anual da Força-Tarefa dos Governadores para o Clima e Florestas (GCF Task Force). Realizado na Universidade Federal do Acre (Ufac), em Rio Branco, o evento reuniu lideranças subnacionais, especialistas, representantes de ONGs, embaixadas, povos indígenas, comunidades locais e servidores públicos de 11 países. A reunião, que contou com a participação de representantes de 43 estados e províncias responsáveis por mais de um terço das florestas tropicais do mundo, foi um marco na construção de soluções para a proteção ambiental e o enfrentamento das mudanças climáticas.
Com o tema “Construindo a Nova Economia Florestal: Conectando Governos, Povos e Oportunidades”, o encontro teve como objetivo central consolidar estratégias que aliam conservação florestal, desenvolvimento econômico e inclusão social. Durante os cinco dias de evento, o Acre se tornou palco de discussões técnicas aprofundadas, visitas de campo a projetos emblemáticos e apresentações de iniciativas inovadoras que refletem o compromisso das jurisdições subnacionais com a preservação das florestas tropicais.
Os debates técnicos foram estruturados em torno de quatro pilares essenciais para a Nova Economia Florestal: bioeconomia, infraestrutura natural, produção sustentável de commodities e restauração de áreas degradadas. Esses temas foram amplamente debatidos em sessões realizadas no Centro de Convenções da Ufac, onde especialistas e lideranças apresentaram soluções práticas para os desafios enfrentados pelas florestas tropicais. As discussões sobre bioeconomia, por exemplo, destacaram a importância de agregar valor a produtos florestais não madeireiros, promovendo cadeias produtivas sustentáveis que beneficiam diretamente as comunidades locais. Já os debates sobre infraestrutura natural e REDD+ jurisdicional reforçaram o papel dos estados subnacionais na implementação de programas que financiam a proteção das florestas e compartilham benefícios com as populações que vivem nelas.
Cabe destacar a sessão onde se discutiu o TFFF (Tropical Forest Facility Forever), nova proposta de mecanismo de financiamento climático que está sendo apresentado pelo governo brasileiro. Nela foi debatido como os estados subnacionais podem contribuir com o desenvolvimento da proposta, considerando as lições aprendidas durante os longos anos de implantação de estratégias de REDD+, bem como a necessidade de repartição justa de benefícios, transparência, governança e o envolvimento de populações indígenas e comunidades tradicionais.
No espaço denominado World Café, negócios, parcerias e experiências foram trocadas. As recepções realizadas garantiram a conexão entre governos, povos e comunidades, além de mostrar a nossa rica gastronomia, o artesanato, a cultura, a potencialidade do turismo e hospitalidade do povo acreano.
As visitas técnicas realizadas durante o evento foram outro ponto alto da programação, permitindo que os participantes conhecessem de perto as ações que fazem do Acre um exemplo de pioneirismo na gestão ambiental e políticas de mudanças climáticas. Entre os locais visitados destacaram-se a propriedade da Sra. Maria Delci, em Capixaba, onde sistemas agroflorestais estão sendo implementados em áreas de assentamento; o Centro Integrado de Gestão e Monitoramento Ambiental (Cigma); e o Viveiro da Floresta, em Rio Branco, uma unidade dedicada à produção de mudas para o Programa de Regularização Ambiental. A agenda também incluiu uma visita à Casa de Chico Mendes, um símbolo do legado do líder seringueiro na luta pela conservação da Amazônia; e a vivência na colocação onde vive o Sr. Raimundão, liderança expressiva e histórica da Resex Chico Mendes, que demonstrou o modo de vida dos seringueiros e atividades sustentáveis desenvolvidas na sua comunidade, a execução da repartição de benefícios do Programa de REDD+ Jurisdicional, além de projetos inovadores de bioeconomia, como o Meliponário Amor Agarradinho, que promove a produção sustentável de mel, bem como os exemplos de produção sustentável de café e cacau nos municípios de Acrelândia e Plácido de Castro.
As visitas também incluíram um momento rico de troca de experiências no tocante à implantação de políticas públicas voltadas para os povos indígenas, comandada pela Secretaria Extraordinária de Povos Indígenas (Sepi) foram realizadas reuniões na sede da Comissão Pró-Indígenas do Acre (CPI-Acre), organização responsável pelo processo de capacitação e formação de lideranças indígenas, bem como uma discussão propositiva acerca do processo de consultas e repartição de benefícios de REDD+ no contexto dos Estados da Amazônia.
Sob a liderança do governador Gladson Camelí, o último dia de atividades voltou-se para o protagonismo dos governadores. Dezessete se fizeram presentes no encontro, momento em que foram realizados relatos do andamento das ações em suas jurisdições, perspectivas, anúncios de alto nível e parcerias construídas ao longo do último ano. A presença de lideranças nacionais e internacionais reforçou o peso político e técnico do encontro. A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, fez um discurso histórico em apoio aos programas jurisdicionais de REDD+ onde destacou:
“(…) É uma ação inovadora que os governos dos estados, junto com os parceiros dos países desenvolvidos, se dispõem a fazer, principalmente na nossa região amazônica. Nós estamos criando meios para a internalização de recursos, para que aqueles que não têm condições de fazer as metas de redução climática possam contabilizar isso em suas contas. Nós estamos criando mecanismos para que os estados possam se beneficiar dos esforços da queda do desmatamento e provar que isso é bom para todo mundo (…). O REDD+ quando bem aplicado, bem encaminhado, não é só para redução de CO², ele é também um instrumento de governança, melhora a governança socioambiental de cada estado e isso contribui para que nós tenhamos mais resultados positivos. Mecanismos como o TFFF não vão concorrer com o REDD+, não vão concorrer com essas formas já existentes. Criaremos adicionalidade, sinergias. Queremos também que esse mercado jurisdicional, com o qual todos nós todos temos trabalhado, agora possa contar com um caminho correto, com a lei que foi aprovada no congresso”.
Também ressaltou a importância do Tropical Forest Forever Facility (TFFF), um modelo de financiamento climático que será apresentado na COP 30, em Belém. Marina Silva enfatizou que o sucesso da iniciativa depende da integração e do fortalecimento das ações subnacionais, reconhecendo o papel central dos estados e províncias na preservação das florestas tropicais.
Além da ministra, o evento contou com a participação da diretora de Sustentabilidade do BNDES, Tereza Campelo, que anunciou aprovação de novos projetos do Fundo Amazônia, bem como secretários de Estado de Meio Ambiente da Amazônia brasileira e de outros países da região, representantes de países como Reino Unido, Alemanha e Noruega, e instituições como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Um dos momentos mais importantes do encontro foi a apresentação da Carta do Acre, documento que sintetiza o compromisso dos estados membros do GCF Task Force com a agenda climática global. A carta destaca a necessidade de incluir os governos subnacionais no desenho de mecanismos de financiamento climático, como o TFFF, e reforça a importância de parcerias com povos indígenas e comunidades locais para a gestão sustentável das florestas. Além disso, o documento aponta os desafios ainda enfrentados, como a regulamentação de programas de REDD+, o aumento de recursos financeiros e a integração com estratégias nacionais.
Ao sediar a 15ª Reunião Anual do GCF Task Force, o Acre reafirmou sua posição como líder global na agenda de clima e florestas. Mais do que um evento técnico, a reunião foi uma demonstração prática de que é possível combinar conservação ambiental, desenvolvimento econômico e inclusão social. O estado mostrou que, com inovação e parcerias estratégicas, é possível construir um futuro sustentável para as florestas e para as populações que delas dependem.
Com os olhos voltados para a COP 30, o Acre e os demais estados membros do GCF Task Force estão prontos para levar suas demandas e propostas ao debate global. O legado do encontro em Rio Branco vai além das discussões realizadas: ele representa um chamado à ação para que governos, comunidades e parceiros internacionais trabalhem juntos na construção de soluções concretas para os desafios climáticos. O futuro das florestas tropicais e do clima global depende da liderança subnacional e do compromisso coletivo com a preservação do planeta.
* Leonardo das Neves Carvalho é secretário de Estado do Meio Ambiente do Acre. Delegado do GCF – Task Force. Coordenador do Eixo Técnico da Comissão Organizadora da 15a. reunião anual do GCF – Task Force.
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